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017. Genocídio cananita

📇 Referências: Dt 7:1-2,Dt 7:3,Dt 8:5,Dt 8:19,Dt 20:16,Dt 32:25,Dt 12:31
✍🏻 https://www.youtube.com/watch?v=ssP-wQv2v5g
🔖 Notas_de_estudo, Apologética_e_história, Objeções_ao_Cristianismo

A Conquista de Canaã: Uma Objeção Difícil ao Cristianismo

Deuteronômio 7:1-2 - ALMEIDA

  1. Quando o Senhor teu Deus te houver introduzido na terra a que vais a fim de possuí-la, e tiver lançado fora de diante de ti muitas nações, a saber, os heteus, os girgaseus, os amorreus, os cananeus, os perizeus, os heveus e os jebuseus, sete nações mais numerosas e mais poderosas do que tu;
  2. e quando o Senhor teu Deus tas tiver entregue, e as ferires, totalmente as destruirás; não farás com elas pacto algum, nem terás piedade delas;

A conquista de Canaã, conforme descrita no Livro de Josué, é considerada uma das objeções mais difíceis ao Cristianismo, especialmente no que diz respeito ao assassinato de crianças. Este evento levanta problemas significativos, como minar a confiança em intuições morais básicas, frequentemente usadas em argumentos a favor da existência de Deus.

Muitos cristãos lutam com este tópico, levando a medos e dúvidas sobre a confiabilidade de Deus e, às vezes, até mesmo ao afastamento da fé. Compreender o contexto e a perspectiva desses eventos pode ajudar a reduzir os medos e a dar segurança aos crentes no evangelho. Entender o contexto aqui é tão crucial quanto assistir ao filme inteiro de Star Wars seria para entender a justiça da destruição da Estrela da Morte.

Retórica e Hipérbole da Guerra Antiga

As descrições bíblicas de expedições militares a Canaã usam a Retórica da Guerra Antiga, que inclui hipérbole ou exagero. Essa retórica significa que as passagens em textos da época, quando usam expressões como “acabamos com linhagem de tal povo, nenhum sobrou vivo” frequentemente descrevem uma vitória decisiva em vez de uma destruição literal de todos os não combatentes.

Linguagem hiperbólica semelhante era comum em antigos textos não israelitas, onde nações se gabavam de “destruir” ou “aniquilar” inimigos, mesmo quando esses grupos continuavam claramente a existir. A palavra hebraica herem, frequentemente traduzida como “destruir totalmente”, significa uma vitória decisiva e uma derrubada abrangente de poder ou redirecionamento de propósito, não uma perda universal de vidas.

Deuteronômio 8:5 - ALMEIDA

5. Saberás, pois, no teu coração que, como um homem corrige a seu filho, assim te corrige o Senhor teu Deus.

Deuteronômio 8:19 - ALMEIDA

19. Sucederá, porém, que, se de qualquer maneira te esqueceres de Senhor teu Deus, e se seguires após outros deuses, e os servires, e te encurvares perante eles, testifico hoje contra ti que certamente perecerás.

Deuteronômio 8 fala sobre o perigo de o povo se desviar de Deus. Neste caso o Senhor traria uma disciplina sobre o povo assim como um pai disciplina um filho desobediente. O verso 19 descreve essa disciplina como herem.

Deuteronômio 7:3 - ALMEIDA

20. não contrairás com elas matrimônios; não darás tuas filhas a seus filhos, e não tomarás suas filhas para teus filhos;

Deuteronômio 7 ordena herem, mas proíbe imediatamente o casamento com cananeus, implicando sobreviventes. Os livros de Josué e Juízes mostram repetidamente que povos supostamente “completamente destruídos” (por exemplo, Hebrom, Debir, jebuseus, Gaza) continuaram a existir nessas regiões.

Deuteronômio 20:16 - ALMEIDA

16. Mas, das cidades destes povos, que o Senhor teu Deus te dá em herança, nada que tem fôlego deixarás com vida;

Deuteronômio 32:25 - ALMEIDA

25. Por fora devastará a espada, e por dentro o pavor, tanto ao mancebo como à virgem, assim à criança de peito como ao homem encanecido.

A linguagem de “homem e mulher, jovem e velho” são merismas, dispositivos retóricos que usam partes contrastantes para expressar a totalidade, semelhante a “céus e terra”, que significa o mundo inteiro.

Mesmo em 1 Samuel 15, onde Deus ordena a Saul que “mate tanto o homem quanto a mulher, a criança e o bebê” dos amalequitas, textos bíblicos posteriores mostram que os amalequitas ainda existem, indicando que a linguagem era hiperbólica. Essa linguagem herem, incluindo merismas, também foi usada para descrever o exílio babilônico dos israelitas, onde sabemos que nem todos foram literalmente mortos.

A Bíblia usa dois verbos diferentes para os cananeus: aniquilação e expulsão, o que seria contraditório se aniquilação significasse morte literal para todos.

As “cidades” cananeias alvos dos ataques militares israelitas eram provavelmente fortes ou guarnições militares, com populações civis vivendo em regiões vizinhas ou abandonando a área durante a guerra. O objetivo era eliminar a resistência oficial e expulsar a população civil restante, não massacrar não combatentes, como bebês, crianças, deficientes ou idosos. Essa interpretação sugere que a conquista não foi um genocídio, pois o interesse era a posse da terra e a debilitação da liderança, não a limpeza étnica.

Julgamento Divino e a Justiça da Conquista

A conquista de Canaã é apresentada como um ato de julgamento divino contra o mal brutal, servindo a um propósito redentor, em vez de ser motivada por poder, xenofobia ou vingança.

Deuteronômio 12:31 - ALMEIDA

31. Não farás assim para com o Senhor teu Deus; porque tudo o que é abominável ao Senhor, e que ele detesta, fizeram elas para com os seus deuses; pois até seus filhos e suas filhas queimam no fogo aos seus deuses.

O comportamento dos cananeus foi descrito como tão perverso que a “terra os vomitou”. Suas práticas incluíam perversões sexuais graves (cultos de fertilidade, bestialidade, incesto) e sacrifícios de crianças na fogueira.

Evidências arqueológicas, como a descoberta de cemitérios tofete em Cartago contendo restos cremados de bebês humanos, corroboram a realidade histórica do sacrifício de crianças. De uma perspectiva cristã, a queima ritual de bebês era demoníaca e parte de uma guerra espiritual maior contra forças hostis.

Este ato de julgamento foi antecipado com mais de 400 anos de antecedência, quando Deus disse a Abraão que seus descendentes possuiriam a terra assim que o pecado dos amorreus fosse completado. Os cananeus não eram inocentes, pois conheciam o Deus de Israel por meio de milagres como o Êxodo, mas resistiram a ele.

Deus, como Criador e Juiz, tem a prerrogativa de intervir na história para acabar com o mal e usar as nações como instrumentos para a justiça. Deus não pode “assassinar” porque Ele dá e tira toda a vida, e Sua posição é diferente da dos humanos em relação à moralidade.

O antigo Oriente Próximo era um lugar brutal com formas horríveis de tortura, e a guerra de Israel, embora violenta, não se envolveu em tais atrocidades. Crer em um Deus que julga o mal ajuda a promover a não violência nos humanos.

Singularidade e Justiça Final

A conquista de Canaã foi um evento único na narrativa bíblica e não é um paradigma para os cristãos de hoje imitarem.

Os cristãos são chamados a promover o bem por meio da paz e da persuasão, seguindo os ensinamentos de Jesus no Sermão da Montanha. Os julgamentos históricos são antecipações de um julgamento final onde haverá perfeita justiça e equidade.

continuidade entre o Antigo e o Novo Testamento; o Deus de Josué e o Deus de Jesus são o mesmo, e Cristo é retratado como um guerreiro em Apocalipse 19.

A característica mais profunda de Deus é a misericórdia, como visto na história de Raabe, uma prostituta cananeia que encontrou paz com Deus. A mensagem final da Bíblia é que Deus tomou sobre si o julgamento por meio da crucificação de Cristo, oferecendo perdão a todos.

👨‍💼 Gavin Ortlund