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094. A Aposta de Pascal

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Não Tem Certeza Sobre Deus? A Aposta de 350 Anos que Pode Mudar Tudo Para Você

Introdução: O Dilema da Incerteza

Você se sente no meio do caminho em relação à fé? Não é o único. O YouTuber Alex O’Connor, por exemplo, comentou recentemente como o Cristianismo lhe parece “muito mais interessante, complexo e plausível” do que ele imaginava, embora ainda não se considere um cristão. Ele está se “aquecendo” para a ideia, mas ainda não está convencido.

Muitos de nós vivemos nesse espaço intermediário, onde a certeza absoluta é um luxo que não temos. Em alguns dias, a fé parece plausível; em outros, nem tanto. É precisamente para quem se encontra nesse dilema que o filósofo e matemático do século XVII, Blaise Pascal, criou sua famosa “Aposta”.

A Aposta de Pascal não é uma prova lógica da existência de Deus. Em vez disso, é um guia prático para a pergunta que assombra muitos de nós: “o que fazer quando você não tem 100% de certeza?”. É uma ferramenta para decidir como viver quando os argumentos se esgotam e a dúvida permanece.

Lição 1: Você Já Está Apostando, Mesmo Que Decida Não Pensar Nisso

O primeiro pilar da Aposta de Pascal é um fato inescapável: você é forçado a escolher. Segundo Pascal, evitar a questão de Deus — simplesmente decidindo não pensar no assunto — já é uma escolha em si. Você viverá sua vida de uma forma ou de outra, e essa vida será sua aposta.

O segundo fato é que essa escolha é sempre feita sem certeza total. Ninguém, seja crente ou cético, possui conhecimento perfeito. Os argumentos podem nos levar até certo ponto, mas nunca aos 100%. Sempre pode haver um contra-argumento que ainda não consideramos.

Essa combinação — a necessidade de apostar sem garantias — é o que torna a condição humana tão angustiante. Pascal a identifica como uma fonte direta da ansiedade moderna que tantos de nós sentimos. Reconhecer isso pode gerar mais compaixão mútua, pois nos damos conta de que, no fundo, todos estamos fazendo o nosso melhor em meio à incerteza.

“Ou Deus existe, ou não existe. Mas para que lado nos inclinaremos? A razão não pode decidir esta questão.”

Mas se somos forçados a apostar em meio à incerteza, o que exatamente está em jogo? Pascal argumenta que não é somente uma questão de lógica, mas de tudo o que nosso coração mais anseia.

Sua Escolha Resultado Real Consequência Magnitude da Consequência
Apostar em Deus Deus não existe Você viveu uma vida virtuosa, mas estava enganado. Perda Finita
(os anos que você dedicou a Deus)
Apostar em Deus Deus existe Você ganha a vida eterna, o céu e tudo mais. Ganho Infinito
Não apostar em Deus Deus não existe Você viveu como quis e estava certo. Ganho Finito (Debatível)
Não apostar em Deus Deus existe Você perde a vida eterna. Perda Infinita (Catástrofe)

Lição 2: O Que Está em Jogo Não é Lógica, é um Profundo Desejo Humano

A Aposta de Pascal é frequentemente resumida em uma tabela de ganhos e perdas, mas seu verdadeiro poder não está na matemática, e sim no seu núcleo emocional. É sobre a dor, o anseio por algo que mal conseguimos nomear, que C.S. Lewis descreveu como “um anseio no coração de visitar um país distante que, de alguma forma, é, na verdade, o seu verdadeiro lar”.

Esse sentimento tem uma natureza dupla: por um lado, parece profundamente estranho e distante; por outro, é a coisa mais familiar que já conhecemos. É como voltar para casa. Lewis capturou essa emoção brilhantemente em suas obras. Dois exemplos se destacam:

  1. O Desejo por um Lar: Em seu romance Até que Tenhamos Rostos, uma personagem descreve o anseio de sua vida como um desejo de voltar para casa, de encontrar “o lugar de onde veio toda a beleza”. É a sensação de que talvez sejamos feitos para outro lugar.
  2. A Jornada de Reepicheep: Em A Viagem do Peregrino da Alvorada, o corajoso rato Reepicheep está determinado a navegar para o leste, para o país de Aslam. Ele não tem garantias de que chegará lá. Mas, para ele, a mera possibilidade vale qualquer risco. Ele declara sua resolução: se seu barco afundar, ele nadará, e quando não puder mais nadar, ele diz: “afundarei com meu nariz voltado para o nascer do sol.”
  3. Mark Studdock, o Cético Desafiado: Em Aquela Força Medonha, o personagem Mark Studdock, um ateu, é torturado e ordenado a profanar um crucifixo. Mesmo não acreditando, ele percebe que seus captores representam o mal, enquanto o homem na cruz representa o bem. Em um momento de clareza, ele se pergunta: se o universo é, no fim das contas, uma fraude, por que se juntar ao lado da fraude? “Supondo que o que é reto fosse totalmente impotente… por que não afundar com o navio?” Mark ilustra a outra face da aposta: a recusa em se aliar ao que é torto, mesmo que pareça ser o lado vencedor.

A aposta, portanto, não é motivada por um cálculo frio, mas por esse anseio humano. É a intuição de que a possibilidade de Deus, do céu e de um significado eterno é a maior aventura da vida, valendo qualquer perigo.

“A coisa mais doce em toda a minha vida tem sido o anseio de alcançar a montanha, de chegar ao lugar de onde veio toda a beleza… o lugar onde eu deveria ter nascido.”

Lição 3: “Acreditar” Não é um Sentimento, é uma Série de Ações

Uma objeção comum à aposta é: “Como posso simplesmente escolher acreditar? Não consigo forçar meus sentimentos ou meu intelecto”. Pascal entende isso. A aposta não é sobre forçar uma convicção intelectual da noite para o dia, mas sobre orientar sua vida e suas ações na direção da possibilidade de Deus.

O argumento é que podemos agir como se acreditássemos, e essas ações podem, com o tempo, moldar o que realmente acreditamos. Nossas escolhas e hábitos podem transformar nossos corações e mentes. Na prática, isso significa um compromisso sincero com ações concretas: orar, mesmo que pareça estranho no início; estudar a Bíblia e a teologia cristã com a mente aberta; frequentar uma igreja e conhecer outras pessoas de fé; e fazer um esforço genuíno para buscar a virtude.

O filósofo Peter Kreeft oferece uma analogia útil: a fé pode começar com uma aposta, assim como um casamento pode começar com um encontro às cegas. O primeiro passo — a aposta ou o encontro — não é o mesmo que a fé real ou o casamento, mas é um caminho que pode levar até lá. É provável que uma pequena faísca se transforme em fogo se você lhe der uma chance, e a promessa que acompanha essa busca ativa é de que você não está sozinho nesse esforço.

“Vocês me procurarão e me acharão quando me procurarem de todo o coração.”

4. Objeções Comuns e Esclarecimentos

Embora a lógica da aposta seja poderosa, ela naturalmente levanta questões importantes. A seguir, abordamos as três objeções mais comuns.
1. A Objeção dos “Muitos Deuses”: Por que somente o Deus Cristão? Esta é talvez a objeção mais comum. A resposta, do ponto de vista de Pascal, é que a aposta se aplica unicamente ao Cristianismo porque ele acreditava que as evidências para a fé cristã eram significativamente mais fortes do que para outras religiões. Para ele, o Cristianismo atingia um nível de probabilidade (por exemplo, 50/50) que tornava a aposta relevante e racional, algo que, em sua análise, outras religiões não alcançavam.
2. A Objeção da “Fé Mercenária”: Isso não é egoísmo? Essa objeção questiona se a fé baseada na aposta é somente um cálculo egoísta para evitar o inferno, em vez de um amor genuíno por Deus. Duas respostas são pertinentes:
 ◦ Motivação Dupla: A motivação para buscar a Deus pode ser mista. Alguém pode querer tanto evitar o inferno quanto se tornar uma pessoa mais virtuosa. O interesse próprio não é necessariamente ruim e pode coexistir com outros anseios.
 ◦ Um Ponto de Partida: A aposta não é a fé madura em si, mas o primeiro passo na jornada. O teólogo Michael Rota reforça essa ideia, afirmando: “Mesmo que inicialmente o apostador fosse motivado pelo interesse próprio, é provável que ele ou ela eventualmente desenvolva um amor mais puro por Deus se um compromisso for feito do que se não for.” O interesse inicial pode evoluir para algo mais profundo.
3. A Objeção da “Crença Forçada”: Como posso simplesmente escolher acreditar? Ninguém pode forçar o próprio intelecto a se convencer de algo instantaneamente. Pascal não se refere a uma persuasão cognitiva imediata. A “escolha” que ele propõe é sobre tomar ações que moldam as crenças ao longo do tempo. Significa:

Conclusão: Uma Aventura Que Vale Qualquer Risco

A Aposta de Pascal não foi criada para provar que Deus existe a um cético satisfeito. Ela é um apelo à ação para a pessoa que esgotou os argumentos, que sente o peso da incerteza e se pergunta: “E agora?”.

É um convite para ter a coragem de # Reepicheep, que estava disposto a arriscar tudo pela chance de encontrar algo maior. Mas a promessa do Cristianismo transforma esse risco. Ela sugere que se você buscar a Deus com sinceridade, como # Reepicheep navegando para o leste, não estará sozinho. Se o Deus que morreu na cruz é real, Ele não o deixará se afogar.

Se a mera possibilidade do Céu é a maior aventura da vida, qual é o primeiro passo que você está disposto a dar para ver se é verdade?

👨‍💼 Gavin Ortlund